Thales Olyimpio Góes de Azevedo
Controle:: 810
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Legenda::
Nome:: Thales Olyimpio Góes de Azevedo
Outros Nomes:: Thales de Azevedo
Nome do Pai:: Ormindo Olympio Pinto de Azevedo,
Nome da Mãe:: Laurinda Góes de Azevedo
Data de Nascimento: 26.08.1904
Cidade de Nascimento:: Salvador
Estado de Nascimento::
País de Nascimento:: Brasil
Data do Óbito:: 05 08.1995
Cidade do Óbito:: Salvador
Estado do Óbito::
País do Óbito:: Brasil
Última Formação Acadêmica / Especialização:: Medicina
Última Instituição Acadêmica da Formação:: Faculdade de Medicina da Bahia, Universidade Federal da Bahia
Data de Conclusão:: 1927
Biografia:: Diplomado pela Faculdade de Medicina da Bahia, Thales de Azevedo estudou no Colégio dos Jesuítas o Antônio Vieira (1914/1919), ligando-se ao grupo de jovens liderados pelo Pe. Luiz Gonzaga Cabral. Concluído o curso secundário, trabalhou por três anos (1919 /1922), nos escritórios da Casa Tude (Tude, Irmão e Cia), firma de Plínio, seu padrinho de batismo, e Eudoro Tude. Aí viria a conhecer como seu supervisor, Frederico Edelweiss, mais tarde professor da Universidade Federal da Bahia. Edelweiss o apóia na decisão de fazer o curso superior e o influência em seu interesse por estudos de etnologia e história. Recebendo distinção pela tese inaugural Fibromyomas do útero: notas e estatísticas na Bahia, aprovada em 23 de dezembro de 1927. Essa turma de médicos diplomados em 27 de dezembro daquele ano notabilizar-se-ia pelo constante convívio entre alguns de seus membros, sob a designação de Núcleo de 27, e pelo destaque alcançado por vários deles. Médico e professor, como costumava se identificar, Thales de Azevedo foi também homem de imprensa e começou a escrever, ainda estudante de medicina, em um jornalzinho diocesano de Ilhéus e para as seções de estudo do Círculo Católico de Estudos da Mocidade Acadêmica do Pe. Cabral. Foi revisor do Diário Oficial da Bahia, onde aprendeu com Arthur Arésio da Fonseca as notações usadas na revisão tipográfica e teve por companheiros Jayme Junqueira Ayres e Adalício Nogueira, então estudantes de Direito. Pouco depois se transferiu para o Diário da Bahia (1925), onde trabalhou com Henrique Câncio, que logo o promoveu de revisor a noticiarista. Entra em seguida para A Tarde, onde é encorajado por Ernesto Simões Filho a escrever e convive com Aloysio de Carvalho, entre outros. Para esse jornal, escreveu por mais de 60 anos, durante os quais acompanhou com admiração, além de Henrique Câncio, a direção sucessiva de três respeitados redatores-chefes Armando de Campos, Ranulfo Oliveira e Jorge Calmon, este desde (1949). Começara sem regularidade, mas acabou tornando-se um articulista de produção semanal até a semana de sua morte. Em (1975), com a reorganização do jornal, Simões Filho o incluíra entre os seis colaboradores permanentes de A Tarde. Na década de 40, ele mesmo dirigira a Semana Católica, órgão local do que viria a ser a Ação Católica Brasileira, e desde 1938 fora membro da Associação Bahiana de Imprensa. Na Faculdade de Medicina, foi interno da Cadeira da Clínica Ginecológica do Prof. José Adeodato de Souza, na enfermaria Santa Marta do Hospital Santa Isabel da Santa Casa de Misericórdia da Bahia (19260) e do Ambulatório de Ginecologia do mesmo hospital (1927), experiência da qual derivou a tese supramencionada. Sua primeira tarefa como médico, identidade profissional mantida por mais de 40 anos (1927/1968) e acumulada, a partir de (1943), com a de professor universitário, foi em comissão pela Secretária de Educação, Saúde e Assistência do Estado da Bahia, no primeiro semestre de (1928), em campanha de combate à peste bubônica no Município de Itambé. Em seguida, clínica em Castro Alves, Bahia (1929/1933), onde convive com o clínico local Rafael Jambeiro. Publicaria mais tarde um romance, narrando aspectos das lutas políticas na região. Ali foi também verificador de óbitos credenciado pelo Serviço de Febre Amarela entres os anos de (1929/1932) e Inspetor Estadual de Ensino (1930) nos municípios de Castro Alves e de São Félix, designado pelo Eng. Archimedes Pereira Guimarães. Nesse período fez o seu primeiro curso de aperfeiçoamento em Aparelho Digestivo e Tuberculose na 2a Cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, com o Prof. Clementino Fraga em (1931). Deixa Castro Alves no início de (1933) e começa a clinicar em Salvador (1933/1943), onde passa por uma serie de curtos empregos até seu ingresso na Secretaria de Educação, Saúde e Assistência. Ensina Inglês no Colégio Nossa Senhora da Vitória- Maristas no ano de (1933) e História Natural no Colégio Antônio Vieira. Nessa fase inicial, faz estágio de cinco meses (1933/34) na Clínica da Cadeira de Dermatologia e Sifilografia do Prof. Eduardo Rabello, da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, onde obtêm o certificado de Assistente. Em (1934) torna-se o primeiro médico do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos, Delegacia da Bahia (1934/38), quando era Delegado Estadual o Engenheiro Oswaldo Augusto da Silva, e em (1936) faz-se médico auxiliar do Serviço de Peste na Bahia, na 5a Delegacia Federal de Saúde. Trabalha também como Assistente da Cadeira de Zoologia e Botânica (1936) do curso de Farmácia, então anexo à Faculdade de Medicina, tendo por catedrático o Prof. Alexandre Leal Costa, e como assistente extranumerário da cadeira de parasitologia (1937) do curso de medicina, tendo por catedrático o Prof. Antônio Luiz Cavalcanti de Albuquerque de Barros Barreto, com quem divide consultório, na Avenida 7 de Setembro - trecho de S. Pedro.Inicia sua carreira de funcionário público como Diretor da Secretaria do Conselho de Assistência Social da Secretaria de Educação, Saúde e Assistência Pública. Mas com Isaias Alves como secretário, obtém sua transferência para o Gabinete, de onde solicita sua reclassificação para o quadro do Departamento de Saúde Pública, o correspondente à atual Secretaria de Saúde (1938/68), tornando-se médico sanitarista. Foi médico do 1o Centro de Saúde na Vitória e do 3o Centro na Calçada, analista do Instituto Oswaldo Cruz, assistente do Secretário Dr. Eduardo Mamede (1938/1940), médico da Inspetoria de Propaganda e Educação Sanitária, chefe da Seção de Higiene da Alimentação (1947/1949) e assistente do Chefe do Departamento de Saúde. Além de Eduardo Mamede, trabalhou na Saúde Publica com Cezar de Araujo, José Maria de Magalhães Neto e Álvaro Bahia. No começo desse período foi nomeado em comissão para fazer o Curso de Extensão sobre Alimentação e Nutrição (1940), dirigida por Josué de Castro na Universidade do Brasil, de quem se tornara amigo.Enquanto professor universitário, além de sua passagem pela Faculdade de Medicina da Bahia, como assistente dos cursos de Farmácia e Medicina (1936/37), em (1942/43) lidera a criação da Escola de Serviço Social da Bahia (1944), unidade pioneira da Universidade Católica do Salvador, onde colaborou como professor até 1967, tendo sido seu diretor entre (1944/54). Mas o marco decisivo de sua dedicação ao ensino e à pesquisa foi o convite de Isaias Alves para integrar o corpo docente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, criada em 1941, hoje Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, onde ensinou entre (1943/69) e o convite, em 1943, por Osvaldo Valente, então diretor do Arquivo Municipal de Salvador, para escrever o Povoamento da Cidade do Salvador (1949), um dos trabalhos da série Evolução histórica da cidade do salvador, comemorativa do IV Centenário da Cidade (1549-1949). Devido à sua formação em medicina, Thales de Azevedo foi encarregado da 1ª Cadeira de Antropologia e Etnografia do Brasil da Faculdade de Filosofia, cuja matéria integrava-se aos currículos de Geografia e História e de Ciências Sociais. Nela, ele deveria cobrir temas de antropologia física ou biológica, mas enviesaria progressivamente para assuntos de antropologia social. Por sua vez, a preparação e o êxito da obra Povoamento da Cidade do Salvador, que se dão nesses anos iniciais de ensino na Faculdade, significariam um salto definitivo em sua vida profissional, tornando-o um autor respeitado nacionalmente. O segundo prêmio foi conferido em abril de 1951, pelo Governo do Estado, o Prêmio Caminhoá (1950), criado para distinguir a obra mais destacada do período. Em seu parecer, a comissão julgadora formada por João Américo Praguer Fróis, José Antônio do Prado Valladares e Alberto Silva afirma: Finalmente, no mesmo ano, Povoamento da Cidade do Salvador recebeu o Prêmio Cultural de Interpretação do Brasil e Portugal Larragoiti Junior, da Academia Brasileira de Letras. Nesse mesmo período, a partir de 1949, trabalhando com Anísio Teixeira, então Secretário de Educação e Saúde do Estado, Thales de Azevedo foi encarregado de dar apoio ao Programa de Pesquisas Sociais Estado da Bahia Columbia University (1950/53), de que logo em seguida tornou-se coordenador, ao lado de Charles Wagley Universidade de Columbia - e inicialmente também de Luiz de Aguiar Costa Pinto - Universidade do Brasil, (1950/51) acompanhando seus desdobramentos em vários estágios posteriores de treinamento e orientação de estudantes americanos em estágio na Bahia, ainda por mais de duas décadas.Como um dos fundadores e membro do seu Conselho Diretor, várias vezes presidente, vice-presidente e secretário geral, da Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia (1950/68), criada por Anísio Teixeira, Thales de Azevedo teve um papel decisivo no apoio a projetos de pesquisa e na concessão de bolsas de estudo a pesquisadores. Em 1955/1956, voltou ao ensino em medicina, tornando-se Professor Conferencista da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Em seguida, quando primeiro dos pro-reitores da Universidade Federal da Bahia, na qualidade de diretor do Departamento Cultural (1960/62), abriu a discussão, entre o corpo docente, sobre a reforma universitária, retomada quando diretor da Faculdade de Filosofia em 1964/68. Foi um dos fundadores e primeiro diretor (1962/64) do Instituto De Ciências Sociais, uma aspiração vinda de 1955/56, quando tentou articular a formação de um Centro de Pesquisas Sociais na Faculdade de Filosofia. Apesar de ter sido o primeiro dos novos institutos básicos criados na Universidade da Bahia associando pesquisa e ensino e promovendo os primeiros cursos de pós-graduação em ciências sociais fora do Rio de Janeiro e São Paulo, por razões políticas o instituto sofreu intervenção do Exército, no início de 1965, e teve seus arquivos totalmente destruídos e esfacelada sua biblioteca, vindo finalmente a ser extinto no final da década de 60. Nesse intervalo, Thales de Azevedo - que deixara sua direção para dirigir a Faculdade de Filosofia - escreveria vários textos sobre ensino superior e reforma universitária.Embora se tenha ocupado de um espectro muito amplo de assuntos, Thales de Azevedo desenvolveu alguns longos ciclos de pesquisa, em que se destacam os temas medicina, história social, relações raciais, imigração/aculturação, catolicismo popular, relações Estado-Igreja, caráter nacional/ ideologia, cotidiano. Antes da formatura, já havia escrito dois textos de etnografia histórica ligados à medicina. Formado, torna-se uma presença ativa em revistas médicas, como Brasil Médico (Rio de Janeiro), Mundo Médico (Rio de Janeiro), The Journal of the American Medical Association (Chicago), Anais da Sociedade de Medicina da Bahia (Salvador), Pediatria Prática (São Paulo), Pediatria e Puericultura (Salvador), Hora Médica (Rio de Janeiro), Arquivos Brasileiros de Nutrição (Rio de Janeiro), Revista Médica Brasileira(Rio de Janeiro), Anais da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sifilografia (Rio de Janeiro), Revista Brasileira de Medicina, Bahia Médica (Salvador) e publica mais de trinta artigos em medicina até 1950. Mas inclina-se progressivamente para as ciências sociais. Já em 1941, um artigo seu O rancho de gaúchos brasileiros e uruguaios (Boletim de Educação e Saúde, Salvador, v. 2, n. 1, p. 30-33. Jun. 1941) seria recebido por Gilberto Freyre.Thales de Azevedo dedicou anos de trabalho ao Rio Grande do Sul e sobretudo à imigração/aculturação de italianos. Desde 1941, depois de uma primeira viagem a passeio, começou a escrever sobre o Rio Grande, reunindo esses primeiros textos em Gaúchos (1943), e culmina com o premiado Italianos e gaúchos: os anos pioneiros da colonização italiana no Rio Grande do Sul (1975 e 1982, 2ª ed.), Primeiro Prêmio no Certame de Letras Biênio da Colonização e Imigração, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, 1975. Por extensão, estuda os italianos na Bahia v. Italianos na Bahia e outros temas (1989) - e escreve um conto-memória, A Filha do Alferes: nas redondezas das Guerras do Sul (1993), inspirado nas conversas da avó Adele sobre o pampa e a Guerra do Paraguai. As sistemáticas notas de campo sobre os italianos no Rio Grande seriam publicadas pela U. de Caxias do Sul, como Os italianos no Rio Grande do Sul: cadernos de pesquisa (1994), um raro volume no gênero entre as publicações brasileiras e fonte inestimável para o aprofundamento do estudo do Rio Grande e de problemas de imigração e aculturação. Essa publicação deveu-se ao empenho dos Profs. Cleodes Piazza Ribeiro e José Clemente Posenato, do ECIRS - Programa Elementos Culturais das Colônias Italianas do Rio Grande do Sul, daquela universidade.Outro ciclo de trabalho teve como foco o catolicismo no Brasil, uma série de trabalhos pioneiros, iniciados com Catholicism in Brazil: a personal evaluation (1953). Além dos ensaios sobre o catolicismo popular, em 1959 publica Aculturação dirigida: notas sobre a catequese indígena no período colonial brasileiro, apontando a catequese como um processo de imposição cultural. Este ciclo inclui também aspectos das relações Estado - Igreja no Brasil, inclusive o premiado Igreja e Estado em tensão e crise: a conquista espiritual e o padroado na Bahia (1978), e culmina com A guerra aos párocos: episódios anti-clericais na Bahia (1991).Na década de 50, integra-se à rede de pesquisadores sobre as relações inter-étnicas no Brasil. A recusa do preconceito racial tivera um antecedente inicial no artigo Raças humanas superiores e raças inferior (1931), mais tarde retomada en passant em Povoamento e em Civilização e mestiçagem (1951). Mas o ciclo de estudos de relações raciais tem seu marco decisivo no trabalho para a UNESCO, Les élites de couleur dans une ville brésilienne, UNESCO, Paris (1953), editado em português como o vol. 282 da Série Brasiliana da Cia. Editora Nacional (1955) e mais recentemente pela U. F. da Bahia (1996).Com interesse nos estudos de caráter nacional, Thales de Azevedo escreveu, sobretudo a partir da década de 70, vários ensaios sobre o tema, como os reunidos em Os brasileiros: estudos de caráter nacional (1981) e fez uma análise da ideologia da segurança nacional dos anos 60/70, expressa em artigos que viriam a ser publicados em A religião civil brasileira: um instrumento político (1981).Já desde Povoamento o autor é atraído por temas do cotidiano, a exemplo da mancebia, da prostituição, da vadiagem, da alimentação, dos temperos, do sal, dos talheres, do sabão, dos jejuns, dos vomitórios, da morte. Essa vertente expressar-se-ia mais tarde em textos como Família, casamento e divórcio (1960, 1961, 1965), Namoro à antiga (1970, 1975 e 1986), Linchamentos no Brasil(1974), A francesia baiana de antanho (1985), Ciclos da vida; ritos e ritmos (1987), A praia; espaço de socialidade (1988), Pragas e chagas na poesia et coetera (1992), Um sorriso do lagarto: preocupações bio-éticas de João Ubaldo Ribeiro (1991), entre outros. Thales de Azevedo publicou, na área das ciências sociais, em vários periódicos nacionais e estrangeiros, como a Revista do Arquivo Municipal (São Paulo), o Boletim do Museu Nacional (Rio de Janeiro), a Revista do Museu Paulista (São Paulo), Sociologia (São Paulo), Verbum (Rio de Janeiro), Le Courier (UNESCO, Paris), Thought: Fordham University Quarterly (New York), América Indígena (México), Anhropological Quarterly (Washington), Journal of Inter-American Studies (Gainsville, USA), The Furrow (Maynooth, Irlanda), American Anthropologist (Menasha, USA), Revista de Cultura Vozes (Petrópoles), Revista de História (São Paulo), Man (Londres), Cadernos Brasileiros (Rio de Janeiro), Universitas (Salvador: UFBA), Internationales Jahrbuchuer Religion Sociologie (Munster, Alemanha), Revista Brasileira de Psiquiatria (São Paulo), America Latina (Rio de Janeiro), Revista de Cultura da Bahia (Salvador), Ciência e Cultura (São Paulo), Revista da Academia de Letras da Bahia (Salvador), Revista do Instituto Geográfico e Histórico (Salvador), Planejamento (Salvador), Cachiers du Monde Hispanique et Luzo-Brésilien Caravelle (São Paulo), Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (São Paulo), Archives des Sciences Sociales des Religions (Paris), Religião e Sociedade (Rio de Janeiro), Mensário do Arquivo Nacional (Rio de Janeiro), Revista de Antropologia (São Paulo), Anuário Antropológico (Fortaleza), Revista da Academia Rio-Grandense de Letras (Porto Alegre), Revista da Bahia (Salvador).Embora vivendo fora de centros maiores de intercâmbio, Thales de Azevedo desde cedo acompanhou a literatura científica em suas áreas de interesse. Ainda sem contato com o ensino universitário em ciências sociais, começa a escrever como vimos, já no ano da formatura em Medicina (1927), sobre temas de etnografia histórica, baseado em viajantes e etnográficos nacionais e estrangeiros, mediante o acesso à biblioteca do amigo, e futuro colega na Universidade da Bahia, Frederico Edelweiss. Outro exemplo liga-se ao empenho em criar um novo modo de ensinar, particularmente em firmar a antropologia na Bahia. No texto da aula inaugural da Faculdade de Filosofia, em 1951 Cultural e biológico em antropologia, publicado em Civilização e mestiçagem (1951), Thales de Azevedo justifica sua posição não reducionista, com referencias a dezenas de fontes, incluindo teóricos estrangeiros e cronistas e clássicos da ensaística e da historiografia brasileira. O mesmo padrão repete-se a cada novo tema, de tal maneira que o registro dessas fontes permite a reconstrução de vários aspectos da formação dos esquemas conceituais da sociologia e da antropologia no Brasil durante sua presença por mais de 50 anos em reuniões e publicações especializadas nessa áreaComo a pesquisa, o ensino foi uma atividade fundamental para Thales de Azevedo. Eram aulas meticulosamente preparadas, desenvolvidas mediante esquemas minuciosos, com indicações bibliográficas que divergiam da tradição de ensino na Bahia e na maior parte do país. Mas ensino e pesquisa estiveram intrinsecamente associados ao estímulo ao debate e ao constante contato com a comunidade acadêmica. A atualidade e presença desse médico e pioneiro em ciências sociais no Brasil expressaram-se também na sua vigência como membro destacado de entidades científicas e culturais. Como médico, entre outras associações, pertenceu ao Instituto Brasileiro de História da Medicina, à Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sifilografia, à Sociedade Brasileira de Alimentação, à Academia Brasileira de Ciências Médico-Sociais, ao Conselho Técnico-Administrativo do IBIT Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose, hoje Fundação José Silveira, e à Academia de Medicina da Bahia. Além da participação na direção da Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia, foi vice-presidente e presidente em exercício do Conselho Estadual de Cultura da Bahia, de que participou desde a fundação em 1968 até seu falecimento. Membro da Academia de Letras da Bahia, desde 1962, foi seu presidente em 1969/1970 e foi membro do Conselho Diretor da Fundação Casa de Jorge Amado. Participou ainda da Academia Brasileira de História, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto Pan-americano de Geografia e História México, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (correspondente), da Academia Rio-Grandense de Letras (correspondente), da Sociedade Brasileira de Sociologia, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e da American Anthropological Association. No Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, apresentado para sócio em 14 de fevereiro de 1952 por Antônio Vianna, Wanderley Pinho, Esther Bastos, Francisco da Conceição Menezes e Durval Bastos e diplomado em 12 de junho de 1952, foi seu vice-presidente em 1977 e presidente eleito sucessivamente por cinco biênios, entre 1978/87. A publicação em revistas especializadas e a presença em encontros profissionais, inicialmente em medicina e em seguida em história, desdobraram-se, sobretudo, na participação ativa na ABA Associação Brasileira de Antropologia, desde antes de sua fundação, já nas reuniões precursoras de (1951/1953/1955). Em 1951, em Petrópolis, Thales de Azevedo foi eleito vice-presidente da Mesa Diretora dirigida por H. Baldus encarregada de organizar o primeiro encontro sobre a situação e perspectivas do ensino e da pesquisa em antropologia no Brasil. Dessa reunião realizada em 1953 no Museu Nacional (Rio de Janeiro), assume a presidência com a vacância temporária de Baldus, por força de um problema de saúde deste. Em 1955 organiza e dirige a primeira reunião nacional de antropólogos no Brasil, quando se funda a ABA. A partir daí, participa de todas as reuniões da associação e, à exceção do conturbado biênio de 1971/72, integra continuamente seu conselho científico. Em 1974/76 assume a presidência e torna-se seu primeiro Presidente de Honra desde 1988. Ministrou seminários e cursos nas universidades de Columbia (N. York, outono/inverno de 1952 e outono/inverno de 1973), Wisconsin (Madison/USA, 1960), Pedro Ruiz Gallo (Perú), Madrid e Lisboa, além de palestras em várias universidades brasileiras, no Instituto Joaquim Nabuco (Recife), na U. Católica da América (Washington), na Rutgers University (N. Jersey, USA), City University of NewYork, e nas universidades de Coimbra, Fordham (N. York), Quebec, Toronto e Laval (Canadá), Louvain (Bélgica), Paris, Bordeaux, Toulouse e Poitiers (França). Participou em bancas examinadoras de concursos e doutoramentos na Columbia University e nas universidades Federal do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Campinas, nos quais foram examinados cientistas sociais como Marvin Harris, Octavio Ianni, Fernando Henrique Cardoso, Maria Isaura P. Queiroz, Florestan Fernandes, João Batista B. Pereira, Maria Manuela C. Cunha e Sérgio Micelli. E integrou os conselhos editoriais de várias revistas em ciências sociais. Outras facetas de Thales de Azevedo Thales possuía outras habilidades, tendo ensaiado como autodidata a pintura, a fotografia - o que lhe valeu inclusive um prêmio da Kodak por tomadas de cena da cachoeira de Paulo Afonso -, o entalhe em cascas de Cajazeira, a eletricidade e a ótica com os projetores de diapositivos. Estava sempre atento às novas tecnológicas, o que o levou a possuir inúmeros aparelhos, então inovadores, como gravadores de voz a fio, a fita e o K 7, filmagem e projeção de cinema e de slide, máquinas Polaroid, copiadora portável com papel termofax etc. Ensinava aos filhos as técnicas de fotografia, desde a revelação à impressão das fotos, a confecção de rádios de Galena, os princípios da física, notadamente a eletricidade como se instalava um comando three way ou um four way, a obtenção de oxigênio e hidrogênio pela eletrolise da água, a observação astronômica e muito mais. Espírito lúdico gostava de fazer cineminha com repetidos desenhos na borda de um bloco de papel, que, ao ser folheado, dava movimento à imagem ali representada. Certa vez comprou um pequeno Periscópio para, em meio à multidão, olhar por cima das pessoas ou por cima de um muro. Obstinado por seus pertences, os quais sempre os guardavam sob máxima proteção, não gostando de compartilhar com ninguém, possuía uma faca especial, com excelente fio, que a utilizava para descascar cana, do seu próprio quintal, rodeado pelos filhos pequenos. Cortava roletes com precisão métrica invejável, e brincava distribuindo os nós entre pedaços das canas. Os jornais ficavam reservados, sem serem folheados até a sua chegada. Para ele o jornal lido e já manuseado ou desordenado não tinha o mesmo sabor. E as lentes ópticas, que fazia pirogravuras em madeira com a concentração dos raios solares, ou simplesmente queimar uma folha seca, o que para nós era fantástico
Produções Culturais:: - Gaúchos: notas de Antropologia Social. 1943- Os Comunistas, o comunismo e a doutrina social católica. 1945- Povoamento da Cidade do Salvador. 1949 - Povoamento da Cidade do Salvador. 1955- Povoamento da Cidade do Salvador. 1969- Civilização e mestiçagem. 1951- As elites de cor numa cidade brasileira. 1996 - Les élites de couleur dans une ville brésilienne. 1953 /1955- O catolicismo no Brasil: um campo para a pesquisa social. 1955- Ensaios de Antropologia Social. 1959 / 1960- Problemas Sociais da Exploração do Petróleo na Bahia. 1959- Antecedentes do homem. 1961- As ciências sociais na Bahia: notas para sua história. 1964 /1984- Cultura e situação racial no Brasil. 1966- A evasão de talentos; desafio das desigualdades. 1968- História do Banco da Bahia(1858/1958). 1969- Namoro à antiga: tradição e mudança. 1975 e/1986- Democracia racial: ideologia e realidade. 1975- Italianos e gaúchos: os anos pioneiros da colonização italiana no Rio Grande do Sul. 1975 / 1982- Feira de Sant'Ana passado e presente. 1976- Igreja e Estado em tensão e crise: a conquista espiritual e o padroado na Bahia. 1978- Namoro, religião e poder. 1980- Os brasileiros: estudos de caráter nacional. 1981- A religião civil brasileira: um instrumento político. 1981- Foi Deus não acontecer nada. 1984- As regras do namoro à antiga. 1986- Ciclos da vida: ritos e ritmos. 1987- Italianos na Bahia e outros temas. 1989- A guerra aos párocos: episódios anticlericais na Bahia. 1991- Pragas e chagas na poesia et coetera. 1992A filha do alferes: nos arredores das Guerras do Sul. 1993 Os italianos no Rio Grande do Sul: cadernos de pesquisa. 1994- A Francesia Baiana de Antanho- Revistas da Bahia. 1995
Instituições de Custódia (Mantenedoras do Acervo):: Documentos referentes à vida acadêmica no período do curso de Medicina.
Observações:: Fontes:http://www.thalesdeazevedo.com.br/biografia.htmhttp://www.academiadeeducacao.org.br/pat_thalesdeazevedo.htm
Fontes de Pesquisa:: Levantamento nominal dos formados de 1812 a 2008 da Faculdade de Medicina da Bahia - UFBA.
Sumário: Thales Olyimpio Góes de Azevedo